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LIÇÃO 2 – DAVI ENFRENTA E VENCE O GIGANTE

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A vitória de Davi sobre Golias faz com que o futuro rei seja conhecido de seu povo como um servo de Deus.  

INTRODUÇÃO

– Na continuação do estudo sobre a vida de Davi, estudaremos hoje o fato que, provavelmente, é o mais conhecido de toda a humanidade a respeito deste rei de Israel:

a sua vitória sobre o gigante Golias, que o tornou conhecido de seu povo como um servo de Deus. 

A vitória de Davi sobre Golias é, até hoje, um dos maiores exemplos a toda a humanidade que não é a força ou a habilidade humanas que conquistam a vitória, mas, sim, a obediência e completa dependência de Deus.

É uma perfeita figura da vitória que vence o mundo: a nossa fé (I Jo.5:4). 

I – A SEGUNDA GUERRA ENTRE ISRAELITAS E FILISTEUS SOB O REINADO DE SAUL 

– Na lição passada, deixamos Davi como pajem de armas do rei Saul. Como dissemos naquela ocasião, o fato de Davi ter se tornado pajem de armas de Saul não significou que tenha deixado de pastorear as ovelhas de seu pai Jessé.

Naquele tempo, em que a monarquia ainda não se encontrava estruturada e não havia, ainda, um corpo burocrático permanente para servir ao governo, era comum que os servidores convocados e/ou requisitados pelo rei (cf. I Sm.8:11-17) o fizessem durante alguns meses, retornando a suas cidades e aldeias no restante do ano.

Assim, quando Davi não estava a servir o rei Saul, como seu pajem, tornava para Belém de Judá, onde prosseguia cuidando das ovelhas de seu pai (I Sm.17:15). 

– Conforme já havíamos, também, dito na lição anterior, o instante histórico da chamada de Davi e de seus primeiros instantes como ungido de Deus era uma situação de grande tensão político-militar.

O surgimento da monarquia em Israel e as vitórias militares obtidas por Saul haviam posto em choque direto os israelitas e os filisteus.

Afinal de contas, os filisteus estavam já há alguns anos dominando a região da Palestina, pois as Escrituras nos mostram que, desde a morte de Abdom (Jz.12:15), os israelitas passaram a servir aos filisteus (Jz.13:1), nunca tendo conseguido se livrar totalmente de tal oposição, apesar das vitórias parciais obtidas por Sansão (Jz.13:5) e pelo próprio Samuel (I Sm.7:13). 

– Neste sentido, aliás, os filisteus são uma figura dos inimigos do povo de Deus.

Provenientes de Caftor (Gn.10:14; Jr.47:4), ilha que é identificada pelos estudiosos como Creta, onde a arqueologia tem demonstrado ter florescido uma importante civilização por volta de 3.000 a.C., ou seja, quase mil anos antes da chamada de Abraão, o que explica o avanço tecnológico que havia entre os filisteus, que dominavam o uso de metais e faziam com que fossem de maior poderio militar que Israel (I Sm.13:20), informações bíblicas, aliás, que têm sido cabalmente confirmadas pelas pesquisas arqueológicas que têm sido realizadas na região nos últimos anos.

OBS: ―…os achados arqueológicos trazem à luz a avançada cultura filistina e comprovam que a tribo sabia perfeitamente se portar como povo civilizado.

(…) A origem dos povos do mar é mais um assunto de disputa entre os estudiosos, que concordam apenas sobre o espaço do Egeu como local de procedência.

Alguns pesquisadores consideram a região micênica como berço dos filisteus. Outros, mais cuidadosos, defendem uma opinião conservadora: a pátria dos povos do mar seria Chipre.

(…) O registro arqueológico só reconstitui a origem filistina até Chipre, a última estação inquestionavelmente pertencente aos povos do mar em sua peregrinação rumo ao sul.

Depois disso, qualquer tentativa de relacionar os diversos achados fracassa em função da semelhança dos supostos vestígios com os remanescentes de outras culturas oriundas do Egeu.

(…) No Levante, os recém-chegados filisteus realizaram mais do que simplesmente amedrontar os nativos.

Traziam na bagagem sua própria cultura e esforçaram-se por estabelecê-la no novo lar.(…).

Embora sua engenhosidade não tenha sido reconhecida pelos moradores da montanha, os invasores destacaram-se na arte da construção naval, introduzindo grandes inovações tais como a âncora de pedra com braços de madeira, a vela móvel para as embarcações e o cesto da gávea.

A arquitetura também pôde se beneficiar: até então, a construção fazia uso apenas de pedras brutas e tijolos.

Os povos do mar trouxeram a técnica de esculpir grandes blocos rochosos. Além disso, desenvolveram e aperfeiçoaram o processamento de metais.

Em XI a.C., as cidades filisteias floresceram e destacavam-se pelos espaços amplos e pelas generosas construções. Os templos, erguidos em veneração a Dagan, impressionavam pela vastidão de suas galerias, cujas pilastras sustentavam tetos semi-abertos.

Em seu interior, ardiam fogos sagrados, e altares móveis, nichos e plataformas de oração guarneciam os locais de culto. Em Ashcalon, vinhos exóticos eram produzidos e exportados.

Numerosas garrafas foram desenterradas no local, comprovando que os habitantes dessa cidade gostavam de consumir a bebida, além da tradicional cerveja. Ecron, por sua vez, alcançou fama nacional e talvez até internacional pela produção de outro líquido precioso: o óleo de oliva, que se destacou na época pela excepcional qualidade.…(YEHUDA, Elizabeth. Os cultos e refinados filisteus. Disponível em: http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/os_cultos_e_refinados_filisteus.html Acesso em 02 set. 2009)   

– Saul havia vencido os amonitas (I Sm.11) e, com isso, consolidado a sua condição de rei em Israel e, logo em seguida, havia vencido os amalequitas (I Sm.15).

Diante deste quadro, que enfraquecia ainda mais os filisteus, que, desde Samuel, não haviam mais conseguido dominar as terras israelitas, tornou-se inevitável a guerra entre ambas as nações pelo controle de Canaã (Palestina), até porque os filisteus, antes da vitória sobre os amalequitas, tinha, sem êxito, guerreado contra Saul (I Sm.13 e 14). 

– Diante deste fortalecimento de Saul, os filisteus resolvem guerrear novamente contra Israel, que, então, havia se lhes tornado uma grande ameaça.

Reuniram, então, suas tropas e se congregaram em Socó, localidade situada na tribo de Judá, ou seja, ao sul de Israel, acampando-se entre Socó e Azeca, no termo de Damim (I Sm.17:1). 

Saul, então, convocou os soldados para a nova guerra, entre os quais os três irmãos mais velhos de Davi: Eliabe, Abinadabe e Samá (I Sm.17:13,14).

Numa situação de guerra, embora tivesse se tornado pajem de armas do rei, Davi não foi chamado. Afinal de contas, era apenas um pajem de armas, alguém que cuidava do estado das armas do rei e não, um guerreiro, motivo pelo qual não foi convocado para a batalha, tendo permanecido na casa de seu pai, cuidando das ovelhas, como costumava fazer. 

– Saul dispôs as suas tropas diante dos filisteus, numa localidade chamada ―vale do carvalho (I Sm.17:2). Um vale separava os dois exércitos. 

– Nesta situação de iminência de batalha, que, inclusive, já havia sido ordenada por Saul (I Sm.17:2), saiu do arraial dos filisteus um homem guerreiro chamado ―Golias, nome cujo significado é ―exílio, embora haja alguns estudiosos que entendem que o significado seja ―forte, ―vigoroso.

 Ele era de Gate, uma das cinco cidades filisteias (Gaza, Asdode, Asquelom, Gate e Ecrom – Js.13:3) e se destacava por sua descomunal compleição física.

Com efeito, Golias media dois metros e noventa centímetros de altura. Tamanha altura faz com que alguns estudiosos da Bíblia entendam que, embora morasse em Gate, Golias fosse, na verdade, descendente dos ―refains, os gigantes que moravam em Canaã (Gn.15:20; Js.17:15) e que haviam sido desalojados pelos amonitas (Dt.2:19-21) e, provavelmente, alguns remanescentes teriam ido habitar com os filisteus. 

Além de ser extremamente alto, Golias trazia na cabeça um capacete de bronze e vestia uma couraça de escamas de bronze e o peso da couraça era de sessenta quilos.

Usava, também, caneleiras de bronze e um dardo de bronze pendurado nas costas.

A haste de sua lança era parecida com a lançadeira de tecelão e sua ponta de ferro pesava sete quilos e duzentos gramas. Além do mais, diante dele, ia um escudeiro. 

– A visão de Golias era aterradora. Com sua altura e com o tamanho e qualidade de suas armas, lembrando que os filisteus somente tinham o domínio da metalurgia naquela época em Canaã, não havia como gerar o pânico e o medo entre os soldados israelitas. 

– Aprendemos aqui mais uma lição espiritual:

o inimigo sempre atua levando em conta os nossos sentidos.

Golias impressionava pela sua aparência, ― caprichava em sua apresentação diante dos israelitas e, por este motivo, causava medo, pavor, pânico entre os soldados israelitas. 

– De igual maneira, o diabo atua entre nós.

Procura nos manter presos ao que vemos, ouvimos, ao que sentimos. Apresenta-se de modo incomum, impressionante, a fim de gerar medo, pavor e pânico no meio do povo de Deus.

Por isso, o apóstolo Paulo diz que não andamos por vista, mas por fé (II Co.5:7). 

Nos dias em que vivemos, onde o audiovisual impera, onde o desenvolvimento tecnológico aguça o uso dos sentidos, muitos têm se deixado levar pelas aparências, pelo atraente cenário trazido pelo adversário de nossas almas.

Quando não são atraídos pelo colorido mundano, centenas, milhares de que cristãos se dizem ser se acovardam, se impressionam diante do que veem e ouvem da parte do inimigo, alimentando uma sensação de impotência e de incredulidade que, assim como Golias fez com o exército israelita, paralisa o povo de Deus. 

 

1º DESLISE DOS ISRAELITAS ( Preocupados com a aparência de Golias atentaram para o que Golias disse de não irem a batalha)

– Impressionados pela aparição de tão terrível guerreiro, os israelitas cometeram o seu primeiro deslize.

Em vez de atenderem à ordem de batalha, que já havia sido dada tanto por Saul quanto pelos chefes (I Sm.17:2), passaram a dar ouvidos a Golias, que foi até o vale e parou, passando a clamar às companhias de Israel (I Sm.17:8).

– Não podemos dar lugar ao inimigo (Ef.4:27), (nem ouvir seus conselhos Sl.1) aumento meu – Adauto.

A ordem havia sido de ir à batalha. Caso os israelitas o tivessem feito, certamente teriam vencido, porque, afinal de contas, já haviam vencido os filisteus anteriormente (cf. I Sm.13 e 14).

Os filisteus é que estavam em desvantagem, em decadência, não, os israelitas, que vinham de mais uma grande vitória militar, desta vez, sobre os amalequitas. 

– No entanto, em vez de irem à luta, aceitaram a pausa ardilosamente planejada pelo inimigo.

Quando Golias apareceu e parou no vale, o exército israelita também o fez. Quantos crentes não fazem o mesmo em nossos dias?

Quando o Senhor os tem mandado lutar contra as hostes espirituais da maldade (Ef.6:11,12), simplesmente param, quando o inimigo aparece vistoso e impressionante.

Deixam de orar, ler a Bíblia, jejuar, participar dos cultos, evangelizar, orar pelos enfermos, santificar-se porque passam a ouvir o que o inimigo tem a dizer através de seus ―campeões,

que vêm impressionantes com um visual e uma conversa paralisadores da obra do Senhor. 

A vestimenta garbosa de Golias era brilhante, pois o bronze reluz na luz do sol e o texto sagrado nos diz que o gigante só vinha durante o dia, de manhã e de tarde, precisamente para que suas vestes se mostrassem brilhantes e ele, ainda mais aterrorizante (I Sm.17:16).

Ele queria chamar a atenção, desviar os soldados de Israel do foco da batalha e da ordem que havia sido dada, mas não atendida. 

– O inimigo faz exatamente o mesmo nos dias hodiernos. Usa o entretenimento para desviar a atenção dos que cristãos se dizem ser.

 Traz sempre um colorido, algo brilhante e que ofusque a visão espiritual do povo de Deus, para mantê-los paralisados e fora da realidade da vida espiritual.

Gasta-se muito tempo com coisas que não edificam, que nada produzem a não ser fracasso espiritual e, com isto, milhares e milhares são postos fora da batalha, embora tenham sido convocados para militar a boa milícia.

Tomemos cuidado, pois o apóstolo Paulo é bem claro ao nos mostrar que quem milita não se embaraça com os negócios desta vida e quem não militar legitimamente não será coroado (II Tm.2:4,5). 

– Golias trouxe uma proposta para os israelitas.

Disse que não havia necessidade alguma para que se fizesse a batalha. Ele era filisteu e os soldados de Israel, servos de Saul.

Que descesse um dos homens de Israel para o vale e ali lutasse com Golias. Se Golias vencesse, os israelitas deveriam servir os filisteus, mas, se Golias perdesse, os filisteus serviriam os israelitas (I Sm.17:8-10). 

– A proposta de Golias continha algumas falácias, ou seja, alguns raciocínios enganosos, precisamente como faz o inimigo de nossas almas, que, após impressionar com os sentidos, traz o engano e a astúcia para iludir o ser humano. 

– Por primeiro, Golias apresenta um pressuposto que não tinha qualquer razão de ser: para que saireis a ordenar a batalha?

Golias punha em dúvida a ordem dada aos israelitas para que fossem lutar.

Ora, analisemos bem:

quem havia se reunido para a guerra?

Por acaso tinham sido os israelitas? Não, não e não!

Tinham sido os filisteus que haviam se congregado para guerrear contra Israel, a fim de tentar impedir que a desvantagem que sofriam se transformasse em servidão. 

– Se não havia necessidade para a batalha, como dizia Golias, por que os filisteus não foram embora para as suas cinco cidades?

Se não havia necessidade para a batalha, por que não se contentavam com a circunstância de que, desde a derrota nos tempos de Samuel, complementada pela guerra anterior sob o reinado de Saul, não tinham eles mais conseguido entrar na terra dos israelitas?

Os filisteus eram os causadores da guerra e agora vinham dizer que não havia necessidade de se ordenar a batalha por parte de Israel? 

– O mesmo se dá com respeito aos servos do Senhor e as hostes espirituais da maldade.

São as portas do inferno que se levantaram contra a Igreja, desde seu surgimento, como nos disse o próprio Senhor Jesus, ao anunciar o mistério da Igreja (Mt.16:18).

Assim, como vem o diabo e nos diz que não precisamos lutar contra ele? Como vem o diabo e nos diz que não há necessidade alguma de enfrentarmos o maligno e o pecado e que podemos simplesmente ir para o céu sem que precisemos lutar contra ele?  

– Jesus veio desfazer as obras do diabo (I Jo.3:8), ou seja, o mal já foi feito, o ataque, a situação de guerra foi causada pelo inimigo, não pelo Senhor.

Desta forma, nós, como membros do corpo de Cristo, outra coisa não temos a fazer senão prosseguir nesta batalha, enfrentando o maligno, porque foi ele quem nos tornou inimigos de Deus e tal situação não pode mais prevalecer.

Aliás, a Igreja surgiu precisamente para desfazer a inimizade que nos separava de Deus e nos unir ao Senhor (Ef.2:13-16). Neste sentido, aliás, Nosso Senhor disse que não havia trazido paz, mas espada (Mt.10:34).

– A vida com Cristo já é uma contínua batalha espiritual, motivo por que sentido algum tem a chamada ―teologia da batalha espiritual, que defende uma luta ―nos lugares celestiais contra demônios, legiões e espíritos malignos que teriam ―domínios territoriais e que deveriam ser desalojados pelos servos do Senhor.

Não, não e não! O fato de termos nos entregado para Jesus já nos faz soldados do exército do povo de Deus, já nos põe em luta contra o inimigo de nossas almas, que foi quem iniciou o ataque, e, sem precisar fazer ―mapeamentos de territórios ou de espíritos‖, devemos lutar, dia após dia, contra o mal, combatendo o bom combate (II Tm.4:7).

Por estarmos em luta, aliás, é que temos de nos abster de tudo o que mundo oferece (I Co.9:25). 

– Temos, sim, necessidade de lutar diariamente contra o mal. Não há possibilidade alguma de pararmos para que ouçamos as propostas do inimigo, sendo que a primeira delas é, precisamente, a de que podemos parar de lutar.

Muitos estão a aceitar esta trégua com o adversário, pensando assim: ―se eu não mexer com o diabo, ele não mexe comigo e posso entrar no céu sem qualquer risco.

Cuidado, pois este raciocínio é enganoso. A proposta de Golias não visava a paz, mas um subterfúgio para tornar muito mais fácil a servidão de Israel aos filisteus.

Seu objetivo não era a paz, mas o subjugo do povo de Deus. De igual modo, a proposta de parar de lutar do diabo não tem outro intento senão facilitar seu trabalho para nos matar, roubar e destruir (Jo.10:10). 

2º DESLISE DE ISRAELITAS (falsa identidade – eles eram servos de Saul…)

– Além da falácia da desnecessidade da luta, Golias trouxe a falácia da falsa identidade do povo de Israel.

Golias denominou-se filisteu, mas disse que os israelitas eram ―servos de Saul.

Sem entrar na questão se Golias era, ou não, etnicamente filisteu, pois, como dissemos, há que sustente que era um refaim que habitava entre os filisteus, o fato é que Golias tentou alterar a identidade de Israel, chamando-os de ―servos de Saul, quando, na verdade, eles eram ―servos de Deus. 

– O inimigo era muito astuto. Golias tinha, certamente, conhecimento de que o povo de Israel havia pedido um rei e que o Senhor lhe havia dado.

Golias, também, sabia muito bem que o Senhor havia sido o causador das últimas derrotas dos filisteus para os israelitas, seja nos dias de Samuel, seja já nos dias de Saul.

Também era de conhecimento do gigante que a última vitória que os filisteus haviam obtido contra os israelitas, nos dias de Eli, tinha sido motivada única e exclusivamente por causa da desobediência de Israel a Deus, tanto que, mesmo tendo os filisteus ficado de posse da arca, tiveram de dela se livrar, diante das pragas lançadas por Deus às cinco cidades filisteias, ocasião, aliás, em que Deus mostrou que era superior a Dagom, o principal deus dos filisteus (I Sm.5:1-6:12). 

– Para vencer Israel, portanto, era necessário desviar-lhes a atenção de seu Deus. Por isso, habilmente, Golias chama os israelitas de ―servos de Saul.

Era necessário fazer com que Israel se sentisse servindo a Saul e não a Deus.

Afinal de contas, Saul havia se consolidado no reino e tinha um cartel de vitórias militares e tinha todas as condições para ser considerado o verdadeiro senhor do povo de Israel.

Era absolutamente indispensável fazer com que Israel não se lembrasse de seu Deus, cujo poder os filisteus conheciam muito bem. 

– É precisamente isto que o inimigo de nossas almas faz com o povo de Deus. Tenta, a todo custo, tirar-lhes a identidade, tenta, de todas as formas, impedir que eles se identifiquem como servos de Deus.

É muito melhor que se considerem ―servos de Paulo, ―servos de Cefas,servos de Apolo e, até mesmo, ―servos de Jesus, desde que este título seja utilizado única e exclusivamente para esconderem a servidão ao seu próprio ―eu.

Quando isto ocorre, a carnalidade invade a igreja e não há qualquer possibilidade de crescimento espiritual, como se viu, por exemplo, na igreja em Corinto (I Co.3:1-5). 

– Como esta tática do inimigo tem conseguido êxito em nossos dias! Os que cristãos se dizem ser pouco se lembrar de sua verdadeira identidade, de que são servos do Senhor, de que são servos do único e verdadeiro Deus, que subsiste nas pessoas do Pai, Filho e Espírito Santo.

Cada vez mais vemos que os que cristãos se dizem ser perdem a sua identidade, confundindo-se com os demais religiosos, com os seguidores de outros cristos e  profetas.

Estão muito mais preocupados em estabelecer ―diálogos interreligiosos, ―ambientes ecumênicos, do que em mostrar que servem ao único Deus verdadeiro.

Estão muito mais preocupados em defender placas, lideranças, denominações do que em se mostrar diferentes e enviados de Deus para a pregação do Evangelho de Jesus Cristo.

Caíram, definitivamente, na armadilha retórica do adversário, crendo-se ―servos de Saul e não, ―servos de Deus. 

– 3º DESLISE DOS ISRAELITAS – (falácia de Golias foi tornar o combate coletivo em uma luta individual).

Golias era, indubitavelmente, um homem singular. Nenhum filisteu tinha a sua estatura e compleição física.

Ele era uma exceção entre seus compatriotas. Seu destaque fazia com que se sobressaísse entre todos os que ali estavam, inclusive o próprio rei Saul.

Enquanto isso, o exército dos filisteus já não era tão forte assim. Em comparação a Israel, havia sofrido duas derrotas, e uma mais recente, de forma que o conjunto militar filisteu não era superior ao de Israel. 

– Ora, diante da inferioridade de qualidade de conjunto, Golias faz uma astuciosa mudança de foco.

Por que lutar os dois exércitos? Por que não lutar apenas dois soldados?

Ao tornar a luta de coletiva em individual, Golias modificava totalmente as condições, transformando a vantagem dos israelitas em nítida, evidente desvantagem, pois não havia pessoa alguma que tivesse as condições de Golias para vencê-lo em uma luta individual. 

– A luta contra o mal não é individual, mas, coletiva.

Jesus não formou a Igreja como povo de Deus por mero capricho ou como algo completamente desnecessário, mas, bem ao contrário, se criou um povo para servi-lO, fê-lo precisamente porque sabia que, sem o concurso do coletivo, do grupo social, ninguém conseguiria vencer o maligno.

A salvação é individual, mas dependemos do concurso dos irmãos para alcançarmos o término de nossa carreira. 

– Na Igreja, o Senhor nos dá as condições necessárias para vencermos o mal.

O crescimento, o desenvolvimento espiritual do cristão somente se faz na igreja local, pois é lá que aprendemos a doutrina dos apóstolos,

– que nutrimos e exercitamos o amor,

– que participamos da ceia do Senhor (At.2:42-47);

– que desenvolvemos a vida de oração (Tg.5:16),

– que temos nossa santidade aperfeiçoada por intermédio dos dons ministeriais (Ef.4:11-16);

– que somos consolados, edificados e exortados pelo exercício dos dons espirituais(I Co.12 e 14);

– que somos ajudados em nossas dificuldades materiais e espirituais pelos irmãos (Rm.12:7,8,13; Hb.12:12,13). 

– Todavia, cada vez mais o inimigo está a conseguir enganar a muitos com a falácia do individualismo. O individualismo e o egoísmo, que são cada vez mais presentes e prevalecentes nestes últimos dias (II Tm.3:1,2), têm invadido as igrejas locais de tal maneira que, em muitas delas, temos apenas um ajuntamento periódico de multidões, nada mais do que isto.

As pessoas são levadas a ter uma vida espiritual isolada, solitária, sem qualquer compartilhamento com os ―irmãos.

Isto nada mais é que aceitação da oferta de Golias: deixem o conjunto vitorioso da igreja e venham enfrentar o inimigo sozinhos.

O resultado é a derrota, pois quem pode enfrentar, por si só, o diabo? Como bem disse João, nós nunca seremos maiores que o que está no mundo, mas Aquele que está conosco é maior que o adversário (I Jo.4:4), mas Ele nos mandou que estivéssemos na Igreja, pois é ali que tem criado condições para que enfrentemos e vençamos o adversário de nossas almas. 

– 4º DESLISE DOS ISRAELITAS – (A quarta falácia de Golias foi o ditado das regras da luta).

Golias não só modificou a luta coletiva em individual, quando ainda ditou as regras da batalha.

O israelita deveria ser escolhido pelos israelitas e ir ao seu encontro no vale: ―escolhei dentre vós um homem, que desça a mim (I Sm.17:8 ―in fine). 

– Por que os israelitas deveriam escolher um homem para ir ao encontro de Golias?

Não deveria ser este homem escolhido pelo rei Saul? Afinal de contas, não tinha Golias dito que os israelitas eram ―servos de Saul? Porque agora dizia que a escolha deveria partir do exército? Na verdade, Golias disseminava, com esta dubiedade, a incerteza e insegurança entre os israelitas, inclusive para determinar quem deveria escolher o dito homem. 

– O inimigo sempre atua de maneira a trazer desconforto, insegurança e incerteza no meio do povo de Deus.

Seu trabalho é criar confusão, é gerar obstáculos. Quantos não têm caído nesta armadilha e, em vez de irem para a luta, em vez de iniciarem a batalha pela conquista das almas, ficam enredados em discussões intermináveis, em dificuldades bíblicas, em discussões estéreis, (ouvi um testemunho de alguém que ficava sempre procurando uma tradução melhor da Bíblia, quando ele achava uma buscava outra; e Deus sempre falava com ele vai ler a Bíblia, e ele correndo atrás de descobrir uma interpretação melhor, esses dias fiquei sabendo que em uma debate bíblico, um pastor acabou matando o outro),  que têm o condão apenas de entreter os crentes e fazê-los desviar do foco que é a pregação do Evangelho e o crescimento espiritual (cf. I Tm.1:3,4; Tt.1:10-13).

Golias, ardilosamente, criava esta dubiedade: quem deve escolher o homem para que vá à luta contra Golias e esta dubiedade foi um dos principais fatores que fez com que a situação de tensão e de enfraquecimento do ânimo da tropa israelita perdurasse por tanto tempo. 

– Além de lançar insegurança e incerteza quanto a como se escolheria o homem israelita para a batalha, Golias ainda estabeleceu o local da luta: seria no vale, onde ele estava: ―desça a mim.

Ora, Golias, bom guerreiro como era, estava ali com seu escudeiro e, dia após dia, sabia muito bem todas as características daquele lugar.

Além de sua grande vantagem física e de sua habilidade militar, sem falar no seu armamento, que era a última tecnologia da época, também estava com maior conhecimento a respeito do local da batalha, pois ele mesmo o inspecionara e o escolhera.

Não havia, pois, humanamente falando, chance para qualquer adversário que viesse e nem sequer conhecia o local, já previamente escolhido pelo gigante. 

– Quantos não têm, também, aceitado as regras do jogo ditadas pelo inimigo de nossas almas para ―combater o bom combate?

Distorcendo das palavras do apóstolo Paulo em I Co.9:19-22, acham poder enfrentar o mal com as regras do jogo do mal. Assim, para evangelizar os carnavalescos, montam blocos evangélicos ou trios elétricos ―gospel e,

assim, em vez de ganharem almas para Cristo, levam os crentes para o carnaval; para evangelizar determinados segmentos da sociedade, adotam seus costumes e maneiras de viver, e, assim, em vez de ganharem as almas para Cristo, engrossam as fileiras destes oprimidos do diabo. Por quê? Simplesmente, porque caíram na armadilha de aceitar o diabo ditar as regras do jogo. 

– 5º DESLISE DOS ISRAELITAS –– (A quinta falácia de Golias foi a de lançar dúvida quanto a vitória do israelita que com ele viesse combater).

Além de ter habilmente transformado a luta coletiva em individual, Golias também lançou o dardo inflamado da dúvida sobre os soldados de Israel.

Disse o gigante:se ele puder pelejar comigo e me ferir, seremos vossos servos; porém, se eu o vencer e o ferir, então sereis nossos servos e nos servireis (I Sm.17:9). 

– Percebemos na expressão de Golias o lançamento da dúvida:se ele puder pelejar comigo.

Golias pôs em dúvida não só a possibilidade de algum israelita vencê-lo, mas mesmo de lutar com ele. Golias pôs num estado de completa e absoluta superioridade sobre qualquer israelita e, deste modo, não permitiu que nenhum soldado do exército de Israel achasse que teria condições de vencê-lo.

Como diz o conhecido provérbio do judô: ―quem teme perder já está vencido. 

 – Não é por outro motivo que o apóstolo João disse que a vitória que vence o mundo é a nossa fé.

Precisamos crer que estamos fazendo a vontade de Deus e que, deste modo, nada poderá impedir a nossa vitória. Jesus venceu o mundo e, olhando para a Sua vitória, temos de crer que também venceremos (Jo.16:33; Hb.12:1,2).

Não podemos olhar para os problemas e para as dificuldades, pois, se o fizermos, certamente sucumbiremos, mas, sim, olhemos para Jesus e clamemos por Seu socorro (Mt.14:30,31), que é bem presente na angústia (Sl.46:1). 

– Por saber que a fé é a nossa vitória, o inimigo lança seus dardos inflamados (Ef.6:16), para nos pôr em dúvida e, desta maneira, paralisar a nossa caminhada, pois o que duvida é como a onda do mar, que é levada pelo vento e lançada de uma para outra parte, impedindo-nos de receber do Senhor alguma coisa (Tg.1:6,7) e é por Ele que temos a vitória (I Co.15:57). 

– O diabo pôs em dúvida o primeiro casal, ao contrariar o dito do Senhor a respeito da árvore da ciência do bem e do mal (Gn.3:1), como também tentou pôr em dúvida o Senhor Jesus na primeira tentação do deserto, ao indagar se Ele era, mesmo, o Filho de Deus (Mt.4:3), (tentou colocar duvidas em Lutero quando estava para passar desta vida para outra – aumento de Adauto).

O diabo sempre começa seu diálogo procurando lançar em dúvida o servo do Senhor e, por isso, não podemos deixar de levar conosco o escudo da fé para apagar o fogo da dúvida lançado pelos dardos inflamados do adversário. 

– Entretanto, apesar de todas estas falácias, o exército de Israel deu ouvidos a Golias.

A Bíblia diz-nos que tanto Saul quanto todo o Israel prestaram atenção às palavras do gigante e, em decorrência disto, deixaram-se impressionar pelos sentidos, advindo o espanto e o pavor (I Sm.17:11). 

– Os filisteus tinham vencido o primeiro ―round da luta: o ―round da confiança, da coragem, da determinação.

Com suas falácias, Golias tinha conseguido que

– a ordem de batalha, a qual já havia sido dada, fosse esquecida;

– que os sentidos levassem ao medo e ao pavor dos israelitas;

– que a luta, de coletiva se tornasse individual;

– que as regras do jogo fossem estabelecidas pelo filisteu e

– que os israelitas não acreditassem na possibilidade de vitória.

O resultado disto tudo é que, durante quarenta dias, de manhã e de tarde, os israelitas ouviram os clamores de Golias e, a cada dia que passava, mais e mais se desmoralizavam e se enfraqueciam. 

II – DAVI É MANDADO POR JESSÉ PARA O CAMPO DE BATALHA

– Como, porém, demorasse a batalha, pois já há quarenta dias se encontravam frente a frente os exércitos de Israel e dos filisteus, Jessé, que já era bem idoso (I Sm.17:12), mandou que Davi fosse obter informações a respeito de seus irmãos, levando-lhes alimento(cerca de 20 quilos de grão tostado e dez pães), não tendo se esquecido de mandar ao chefe de mil dez queijos de leite(I Sm.17:17,18). 

– Mais uma vez, vemos que Davi não foi vazio até a presença de pessoas dignas de honra. Jessé sempre tinha o cuidado de enviar seu filho com presentes às autoridades, uma bela figura de que devemos estar sempre prontos a dar, pois melhor coisa é dar do que receber (At.20:35).

Nos dias em que vivemos, de egoísmo e individualismo exagerados, não é esta a doutrina seguida, inclusive por muitos que cristãos se dizem ser.

No entanto, tal ensinamento foi ratificado pelo próprio Senhor Jesus e, se nós O servimos, devemos adotar tal conduta e não a que grassa no mundo.

Devemos estar sempre dispostos a dar, não a receber. Enquanto isso, muitos falsificadores da Palavra de Deus estão a incentivar e estimular o povo aos gritos dizendo ―Receba! Receba! Receba!‖… Tomemos cuidado! 

– O objetivo da ida de Davi era visitar os seus irmãos, ver se lhes ia bem e trazer algum sinal a Jessé de que estavam bem (I Sm.17:18). Davi, então, foi até o ―vale do carvalho‖, onde estavam Saul e todo o Israel para a batalha com os filisteus (I Sm.17:19). 

– Davi, logo de madrugada, iniciou a sua viagem, deixando as ovelhas com um guarda (I Sm.17:20).

Vemos, pois, a dedicação de Davi, que não tinha se alterado nem um pouco desde quando havia sido ungido rei de Israel por Samuel. Pelo contrário, vemo-lo tão cuidadoso quanto antes.

Diante da ordem de seu pai, não hesitou em sair logo de madrugada, para fazer a viagem. Não esperou que o dia nascesse, nem um horário mais conveniente.

Incontinenti, ao receber a ordem de seu pai, providenciou para que, no primeiro instante, fosse tal determinação devidamente cumprida. 

– Temos esta dedicação quando recebemos incumbência da parte daqueles que estão sobre nós, seja na sociedade, seja na igreja? Mais ainda: temos esta prontidão para atendermos ao que nos manda o Senhor?

Muitos, na atualidade, porque fazem algo ―para Jesus‖, são negligentes, descuidados, não se dedicam nem se esforçam. Afinal de contas — dizem — é para Jesus mesmo… Não nos comportemos desta maneira, pois as Escrituras são bem claras ao dizer que é ―maldito aquele que fizer a obra do Senhor fraudulentamente! E maldito aquele que preserva a sua espada do sangue!‖ (Jr.48:10).

Quantos não têm sido alvos desta maldição pela sua negligência com que desempenham as tarefas que lhe foram destinadas na casa do Senhor? Pensemos nisto! 

– Davi não só se levantou de madrugada para atender à ordem de Jessé, como, antes de partir, tratou de deixar suas ovelhas com um guarda (I Sm.17:20 ―in initio‖).

O fato de ter recebido uma nova tarefa da parte de seu pai não o desincumbiu do dever de pastor das ovelhas de seu pai.

Não sabia quando voltaria para cuidar das ovelhas (aliás, nunca mais voltou, foi esta a sua despedida do pastoreio daquele rebanho), e, por isso mesmo, tratou de deixar alguém a cuidar delas, um guarda.

Como é belo quando deixamos um guarda para cuidar daquilo que éramos responsáveis e que, por vontade do Senhor, não mais o seremos.  

– É importante observar que Davi não deixou um novo pastor, mas, sim, um guarda. É verdade que não sabia que jamais voltaria a pastorear o rebanho de seu pai (I Sm.18:2), mas deste gesto vem-nos uma bonita lição: a Jessé, e somente a ele, caberia indicar um sucessor para Davi no pastoreio das ovelhas, mas, enquanto não houvesse tal indicação, não poderiam as ovelhas ficar desamparadas, sem ninguém que as assistisse.

Por isso, Davi deixou um guarda, que delas tomasse conta até que a situação se regularizasse.

Na obra do Senhor, também devemos fazer isto: ao pressentirmos ou pelas circunstâncias percebermos que não mais continuaremos uma determinada tarefa, devemos deixar apenas ―guardas‖, pessoas que interinamente cuidem daquilo que fazíamos, até que a pessoa de direito escolha o substituto.

Nem deixar desamparado, nem se substituir a quem de direito, eis a lição que Davi nos deixa na mudança de tarefas na casa do Senhor. 

– Ao chegar ao campo de batalha, Davi, que havia parado no lugar dos carros, deparou-se com a chamada para a ordem de batalha.

Aos gritos chamavam-se os soldados para a peleja, mas, como sempre, esta ordem de batalha ficava prejudicada, ante o triunfo das falácias de Golias. Israelitas e filisteus puseram-se em ordem, fileira contra fileira. Que fez então o jovem Davi, que não era afeito a tais situações? 

– Davi, ao perceber que se estava dando ordem para a batalha, não se acovardou, nem tampouco se distanciou.

Ao ver toda a movimentação das tropas, em primeiro lugar, deixou a carga que trouxera na mão do guarda da bagagem.

Como Davi era cuidadoso! Tinha uma grande carga para entregar e havia vindo para isto e, diante do alvoroço, não se deixou levar pela mera curiosidade, mas, antes de ir até o local da batalha, tratou de deixar a carga na mão do guarda da bagagem. Dedicação, responsabilidade e senso dos deveres, eis as características de Davi que, com a unção do Espírito Santo, cada vez mais se intensificavam.

Será que os ―ungidos são tão cuidadosos assim em nossos dias? 

– Davi foi ao campo de batalha, mas, apesar de ser natural que quisesse ver a batalha, não estava ali para satisfazer a sua curiosidade ou desviar sua atenção para coisas alheias à ordem que recebera.

Foi até a batalha, mas para procurar os seus irmãos e saber se estavam bem (I Sm.17:22). Davi não se deixou distrair com a batalha, com o alvoroço de ambos os exércitos.

Tinha plena consciência de sua missão e buscava cumpri-la à risca. Assim são os homens segundo o coração de Deus: cumpridores de seus deveres. 

– Nos dias em que vivemos, poucos, pouquíssimos são os que demonstram ter noção de seus deveres para com Deus. Esquecem-se de que, diante de Deus, são sempre devedores!

Chegam aos cultos atrasados, portam-se inconvenientemente nas reuniões, conversando em vez de orar, indo de um lado para outro para tomar água, ir ao banheiro, numa irreverência que não encontramos entre os religiosos de outros credos.

Que horror! Não podemos deixar nos distrair com as coisas desta vida, sob pena de, em plena casa do Senhor, sermos pessoas que se deixam enganar pelo adversário de nossas almas.

Como diz o apóstolo Paulo, devemos nos unir ao Senhor sem distração alguma (I Co.7:35 ―in fine‖). 

– Davi achou seus irmãos e falava com eles, quando Golias apareceu e tornou a dizer as suas falácias (I Sm.17:23).

O medo e o pavor que o gigante já tinha conseguido gerar entre os israelitas era tanto que, tendo o filisteu dito suas palavras, como fazia toda manhã e tarde, os israelitas fugiram de diante dele e demonstraram grande medo (I Sm.17:24). 

– Além da covardia, havia, também, se criado, entre os homens israelitas, o mexerico, a fofoca. Isto sempre ocorre quando não há fé.

 Ao lado da letargia, da paralisia, surgem também os boatos, os comentários, as conversas inúteis e nada edificantes. Como o soldado que não guerreia torna-se ocioso, advém todos os males da ociosidade, entre os quais, o do falar da vida alheia.

 Tanto assim é que não faltaram homens de Israel que alardeassem pelo arraial a notícia de que o rei Saul havia prometido enriquecer de grandes riquezas, dar a mão de sua filha em casamento e tornar franca a casa de seu pai em Israel a quem se dispusesse a ferir Golias (I Sm.17:25). 

– A existência desta oferta do rei Saul mostra-nos como as falácias de Golias haviam dado resultado.

O anúncio de que o rei honraria o que se dispusesse a lutar com o gigante com a imunidade de tributos sobre a casa de seu pai, que se lhe dariam riquezas e, mais, o parentesco com o rei, mediante a concessão da mão de sua filha em casamento, era a demonstração de que a estratégia do filisteu havia sido exitosa, senão vejamos:

  1. a) ao fazer o anúncio, Saul esquecera da ordem de batalha que havia dado e do fato de que haviam sido os filisteus os causadores da guerra, exatamente como queria Golias, dando a impressão que a batalha era desnecessária;
  2. b) ao fazer o anúncio, Saul assumia que os israelitas eram seus servos, não tendo sequer procurado consultar a Deus sobre a correção da aceitação do desafio de Golias;
  3. c) ao fazer o anúncio, Saul havia aceitado tornar a luta coletiva em individual, como queria Golias;
  4. d) ao fazer o anúncio, Saul aceitava todas as condições impostas por Golias para o combate;
  5. e) ao fazer um anúncio oficioso, pois não havia ocorrido nenhuma declaração solene da parte do rei, mas tudo com base no boca-a-boca, Saul havia preferido encontrar um voluntário para a peleja, diante da confusão surgida da falácia de Golias a respeito de quem designaria o combatente: o exército ou o rei?

Além do mais, este anúncio também livrara o próprio Saul desta responsabilidade, visto que era ele o principal guerreiro de Israel, o mais alto de todo o exército (cf. I Sm.10:23); 

  1. f) ao fazer o anúncio com tantas vantagens para quem se dispusesse a lutar contra o gigante, Saul mostrava que a dúvida havia tomado conta de seu exército, a tal ponto que, apesar de tantas promessas, ninguém aparecia para lutar contra Golias.

– Enquanto Saul se submetia aos ditames do inimigo, como sói acontecer com todos aqueles que não têm o Espírito Santo, Davi, ao ter notícia da oferta real, buscou, por primeiro, certificar-se de todo o teor do que lhe era prometido.

Assim, demonstrando interesse pelo que fora anunciado, perguntou aos homens que com ele estavam o que receberia aquele que se dispusesse a lutar contra aquele que ―afrontava a Israel‖. Mas, ao mesmo tempo em que quis saber qual era a oferta real, demonstrou ter uma visão completamente distinta a respeito dos fatos (I Sm.17:26). 

– Davi havia visto o gigante com toda a sua armadura, com toda a sua pompa e arrogância. Como se não bastasse, ouvira as suas palavras e, ainda, se deparara com a vergonhosa cena de covardia e pavor vindos do exército de Israel.

Também tomara conhecimento da oferta real que era uma submissão aos ditames do inimigo. Mas, como reagiu a tudo isto?

De uma maneira completamente diferente. Viu em Golias um incircunciso filisteu que não tinha qualquer legitimidade para afrontar os exércitos do Deus vivo! 

– Como é diferente a visão de um servo de Deus!

Enquanto os israelitas viam tão somente o homem de 2,90 m de altura, com seu capacete de bronze e uma couraça de escamas de bronze de 60 kg de peso, as caneleiras de bronze, um dardo de bronze pendurado, uma lança cuja haste, parecida com uma lançadeira de tecelão, tinha uma ponta de ferro de 7,2 kg, Davi só vira um incircunciso filisteu que estava a afrontar os exércitos do Deus vivo! 

– Davi não se deixou impressionar pela terrível aparência do guerreiro Golias, mas, cheio do Espírito Santo como era, não se deixou levar pela vista, mas, sim, usou o olhar da fé.

Viu naquele homem alguém que não pertencia ao povo de Deus. Ele era um incircunciso, ou seja, alguém que não era abrangido pelas promessas que o Senhor havia feito a Abraão, alguém com quem Deus não tinha compromisso (Gn.17:9-14).

Por não ser alvo da aliança com Deus, Golias era nada mais, nada menos que um amaldiçoado, vez que estava a afrontar o povo de Deus (Gn.12:3).  

– Davi também não via um “exército dos servos de Saul”. Embora respeitasse e considerasse o rei, de que, inclusive, era pajem de armas, Davi bem sabia que Israel era o povo de Deus, a Sua propriedade peculiar dentre os povos, um reino sacerdotal, um povo santo (Ex.19:5,6).

Assim, como Golias poderia subsistir afrontando ―os exércitos do Deus vivo‖? Davi não se deixara levar pela falácia da falsa identificação do povo de Israel e nem mesmo a covardia dos soldados foi capaz de deixar de crer que estava diante de soldados do próprio Deus. 

– A visão de Davi era, portanto, alimentada pelas promessas e alianças que Deus havia feito com o Seu povo, seja com Abraão, seja no Sinai com todo o povo que havia saído do Egito.

Assim, também, devemos agir no dia-a-dia de nossa luta contra o mal: crermos na nova aliança feita com base no sangue de Jesus, sangue que fala melhor do que o de Abel (Hb.12:24). O que nos tem faltado, muitas vezes, em nossa jornada terrena, é a visão do Calvário, que nos garante a vitória, que nos faz crer que, apesar de todas as dificuldades, não há quem nos possa separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor, porque se Deus é por nós, quem será contra nós (Rm.8:3339)? 

Davi não se deixou distrair pelas falácias de Golias. Sabia que não tinha cabimento uma luta individual.

Quem afrontasse a Israel, lutava contra o próprio Deus, que era o responsável pelo Seu povo. Não havia como apenas se travar um combate individual.

A afronta era contra o Deus vivo e, por isso, a luta se daria em nome do Senhor dos exércitos e não de alguém contra Golias.

Temos de ter esta convicção nos instantes cruciais de nossa existência terrena e, por isso, descansar, pois, nos momentos agudos, quando não soubermos o que fazer ou o que dizer, o Espírito Santo é quem agirá por nosso intermédio (Mc.13:11). 

– Davi externou toda a sua indignação, mostrando que não havia se deixado tomar pelo medo ou pelo pavor.

 A indignação não deve ser apenas um sentimento interno, apenas palavras que não correspondam a uma ação. Muito pelo contrário, a indignação deve refletir uma disposição para agir, para mudar o que se vê errado. O servo de Deus deve sempre se indignar contra o pecado e o mal, vivendo diferentemente e não aceitando os ditames do adversário, ainda que tenham sido eles acatados pela imensa maioria do povo de Deus. 

– A visão diferente de Davi e as suas expressões causaram imediato impacto entre os combalidos e desalentados soldados de Israel. Tornaram a falar a Davi o que o rei concederia a quem se dispusesse enfrentar o gigante (I Sm.17:27). Surgiu, então, o primeiro obstáculo a ser enfrentado pelo jovem indignado, a saber: seu irmão primogênito Eliabe. 

– Ao saber das expressões de Davi e do interesse de Davi em enfrentar o gigante, Eliabe, seu irmão mais velho, ficou irado e se voltou contra o seu irmão caçula: ―Por que desceste aqui? E a quem deixaste aquelas poucas ovelhas no deserto? Bem conheço a tua presunção, e a maldade do teu coração, que desceste para ver a peleja.‖ (I Sm.17:28). 

– Revelava-se aqui o coração de Eliabe, coração que já era do pleno conhecimento de Deus e que impedira Samuel de ungir ao primogênito de Jessé como o novo rei de Israel (I Sm.16:6,7). Apesar de guerreiro, de porte atlético, de ser o primogênito, Eliabe apresenta péssimas características: era covarde (por que, se era tão corajoso, não havia se oferecido a lutar contra Golias?), invejoso, maldoso e caluniador.  

– Eliabe sabia que Davi havia sido ungido por Samuel para ser o novo rei de Israel e, diante da disposição do jovem, podia até antever que se iniciaria ali a publicação daquilo que, certamente, havia sido mantido em segredo na família.

Como primogênito, porém, não tinha aceitado a sua preterição, até porque o próprio profeta havia dito que ali estava o ungido do Senhor, mas, estranhamente, não o ungira, fazendo-o com relação ao caçula.

 Eliabe, ante tal circunstância, deixara-se envenenar pela inveja, mal que tem feito, ao longo dos séculos, muitos perderem a salvação (Sl.73:2,3). Quando nos deixamos vencer pela inveja, somos como Caim, do maligno, destinados à perdição (I Jo.3:12). Deus nos guarde! 

– Eliabe, cujo nome significa ―Deus é pai‖, não se comportava como um bom irmão. Por pura inveja, em vez de estimular e apoiar seu irmão, que sabia ser o ungido do Senhor, irou-se contra ele, procurando desmoralizá-lo publicamente.

 Certamente, Davi havia lhe dito que tinha vindo por ordem de Jessé, que queria saber do estado dele e dos seus dois outros irmãos. Aliás, falavam a respeito disso, quando viera a ordem para a batalha.

Por que, agora, dizia, para todos ouvirem, qual a razão de Davi ter ido ali? Quis dar a impressão aos seus colegas de farda de que Davi era um jovem curioso, um aventureiro irresponsável, a quem não se devia dar qualquer confiança. 

– Mas a tentativa de desmoralização de Davi não parou por aí. Eliabe, ainda, quis menosprezar Davi, perguntando-lhe a quem havia ele deixado ―aquelas poucas ovelhas no deserto.

Com esta expressão, Eliabe mostra que era maldoso, querendo dar a impressão a todos os demais soldados de que Davi era pastor de ovelhas, mas não para dar conta de seu trabalho e dedicação, mas, ao dizer que ―as ovelhas eram poucas, visava mostrar aos demais israelitas que Davi era alguém inexpressivo, que não tinha qualquer habilidade ou capacidade.

Além do mais, buscava, também, dizer que Davi era uma pessoa descuidada, que, por curiosidade, havia abandonado as ovelhas ao cuidado de um qualquer. 

– Como há Eliabes em nosso meio na atualidade! Irmãos que, sabendo da chamada divina de alguém, cientes de que foram escolhidos pelo Senhor, procuram, aos quatro ventos, menosprezar, difamar e desmoralizar os irmãos diante da congregação.

São homens e mulheres que se tornam obstáculos para a concretização da chamada, elementos necessários, porém, para que demonstremos que nossa confiança nas promessas de Deus não é fruto apenas de indignação ou empolgação, mas de uma fé viva e atuante. 

– Eliabe, também, passou a caluniar, difamar o seu irmão Davi. Disse que ele era presunçoso, de coração malvado, que tinha deixado as suas obrigações com o único intuito de ver a peleja.

Considerou que Davi era um homem sanguinário, alguém que tinha prazer na desgraça alheia, alguém que tinha vindo ali apenas para zombar e escarnecer dos soldados, acusações que tinham o nítido propósito de gerar desconfiança e suspeita de Davi em relação aos soldados de Israel.

Via-se, nitidamente, a tentativa de Eliabe de impedir que a bênção dada a Davi pudesse se concretizar a partir daquela batalha.  

– Davi, neste ponto, apresenta-se como um tipo de Jesus Cristo. O Senhor, também, foi hostilizado na sua própria casa, pois Seus meio-irmãos eram incrédulos (Jo.7:5), a ponto de ter dito, evocando a profecia de Miqueias (Mq.7:6), que os inimigos do homem são os seus familiares (Mt.10:36).

Não devemos, pois, nos surpreender quando a oposição com relação à nossa chamada e escolha divina vier da nossa própria casa. Parece, mesmo, que isto se dá como uma confirmação de que estamos na direção e orientação do Senhor. 

– Diante de tal atitude por parte de seu irmão mais velho, seria natural que Davi se intimidasse, até porque se tratava de uma afirmação vinda de um importante guerreiro e que, além do mais, era seu irmão e, portanto, teoricamente conhecedor da sua intimidade.

No entanto, Davi, como não se deixava levar pelos sentimentos humanos, mas se encontrava em uma justa indignação promovida pelo Espírito Santo, agindo por fé, não esmoreceu.

Simplesmente, sem desrespeitar seu irmão ou iniciar uma inútil discussão, perguntou a seu irmão o que havia feito e se havia alguma razão para tanta ira, imediatamente se desviando dele e procurando confirmar, com os homens, uma vez mais, a oferta real (I Sm.17:29,30). 

– Que lição nos dá Davi! Não devemos dar confiança a quem não merece confiança. Não devemos nos distrair com as calúnias, difamações, falsidades e demais manifestações de quem não serve a Deus.

Devemos continuar com nossa atenção voltada para a realização da obra de Deus, deixando de lado os que se levantam contra nós.

Devemos orar por eles, mas não podemos, em hipótese alguma, prejudicar a nossa jornada rumo ao céu por causa dos opositores.

Iniciar uma peleja contra este tipo de gente é desobedecermos a Deus, é ingressarmos também em falácias que nos levam à paralisia espiritual.

Lembremo-nos de Neemias que, diante de tanta oposição, disse: ―Estou fazendo uma grande obra, de modo que não poderei descer. Por que cessaria esta obra, enquanto eu a deixasse e fosse ter convosco?‖ (Ne.6:3b).

 OBS: Devemos ter a mesma disposição que relata conhecida canção da música popular brasileira, de autoria de Adalberto Paz e Edson Menezes, ―Deixa isso para lá‖, que fez sucesso com Jair Rodrigues em 1965.

Diante das calúnias, invejas e falsidades dos adversários, tomemos a atitude dita pelo poeta: ―”deixem que pensem, que digam, que falem, deixa isso pra lá, vem pra cá, o que é que tem, eu não estou fazendo nada, você também‖.

– Davi se desviou de Eliabe e buscou informações a respeito da oferta real e demonstrou tanto interesse em enfrentar o inimigo que não tardou que esta notícia se espalhasse pelo arraial e que Saul mandasse buscá-lo (I Sm.17:31).

Mais uma vez, vemos que Davi não se ofereceu, mas foi chamado. Davi não escondeu de pessoa alguma sua intenção de enfrentar o gigante, não porque fosse um ―campeão‖ (como alguns cânticos insistem em dizer que o crente deve se considerar), mas porque sabia que não poderia subsistir uma afronta ao Deus vivo.

Ante a sua disposição, o rei o chamou e ele, sem qualquer receio, foi até a presença do rei. Na obra de Deus, não devemos nos oferecer, mas esperar ser chamados por quem de direito.   

III – DAVI DISPÕE-SE A PELEJAR CONTRA O GIGANTE GOLIAS

– Ao chegar diante de Saul, Davi, após confirmar a sua intenção de enfrentar o gigante, trouxe uma palavra de ânimo ao monarca: ―não desfaleça o coração de ninguém por causa dele; teu servo irá e pelejará contra este filisteu‖ (I Sm.17:32). 

– Quem olhasse para a cena, talvez desse sobejas razões a Eliabe. Como aquele jovem, que nem sequer fazia parte do exército, que se dizia ser ―pastor descuidado de poucas ovelhas no deserto, poderia enfrentar o campeão dos filisteus e, ainda por cima, dizer ao rei que não deveria Israel ter seu coração desfalecido por causa de Golias? Não seria isto presunção? 

– Devemos ter muito cuidado ao chamarmos alguém de presunçoso. A presunção é a opinião demasiado boa e lisonjeira sobre si mesmo. É uma demonstração de vaidade, de imodéstia, a confiança excessiva em si mesmo.

 O presunçoso vangloria-se, deixa Deus de lado e faz prevalecer o seu ego sobre tudo e sobre todos. Identificaremos o presunçoso na sua soberba, no seu orgulho, na sua arrogância. 

– Davi, em momento algum, foi presunçoso. Ao se indignar, disse que Golias era um incircunciso filisteu que estava a afrontar os exércitos do Deus vivo e que ele não tinha condições de fazê-lo diante das promessas e alianças feitas entre Deus e Israel.

Assim, havia tão somente constatado que Golias afrontava a Deus e ninguém pode ser bem-sucedido quanto se rebela contra o Criador dos céus e da terra. Deste modo, Davi se dispunha a enfrentar o gigante por causa desta circunstância, sabendo que era Deus quem haveria de dar-lhe a vitória, em virtude da Sua fidelidade para com o que prometera no passado a Israel. 

– Quando agimos baseados nas promessas e alianças que Deus fez em relação ao Seu povo, não temos risco algum de agirmos com presunção. Os dias em que vivemos são dias em que abundantes são os homens presunçosos (II Tm.3:2), mas o servo do Senhor bem sabe distinguir quem o é e quem não o é. Jamais podemos ser presunçosos, mas sempre agirmos para honra e glória do Senhor, seguindo a Sua orientação e vontade. 

– Tanto assim é que Davi não disse ser ―o campeão‖, ―o cara‖ para derrotar Golias, mas, sim, ―servo de Saul‖ pronto a enfrentar ―aquele filisteu‖.

Davi pôs-se na condição de ―servo de Saul‖, em consideração e submissão ao próprio critério de avaliação que Saul havia feito, em que pese ter sido esta classificação resultado de uma falácia do inimigo.

Davi não foi questionar com Saul a desconsideração de que Israel era o povo de Deus, não quis corrigir o rei, pois não era seu papel fazê-lo, ainda que tivesse a certeza de que iria sucedê-lo. Não, não e não! Davi era submisso, sujeito à autoridade de Saul e se pôs como servo do rei, o que afastava qualquer possibilidade de que agisse com presunção.

– Exsurge, então, o segundo obstáculo para Davi: o próprio rei Saul. Após ouvir de Davi que não precisava o coração de ninguém se desfalecer, pois ele iria enfrentar o gigante, Saul procurou desencorajar o jovem, dizendo que ele era moço, enquanto que o filisteu, homem de guerra desde a sua mocidade (I Sm.17:33).

Bem vemos aqui como Davi não havia agido com presunção, visto que Saul conhecimento algum tinha das habilidades de Davi, tendo tão somente levado em conta a tenra idade de Davi e sua inexperiência em batalhas. 

– O desânimo é um grande obstáculo para fazermos a obra de Deus e conseguirmos a vitória. Jesus foi claro ao dizer que, para vencer, temos de ter ―bom ânimo‖ (Jo.16:33). O desânimo é uma grande arma do inimigo e, se não tomarmos cuidado, seremos derrotados por acolhê-lo em nossas vidas.  

– Saul levava em conta que Davi era pessoa inexperiente em assuntos militares. Era apenas um de seus pajens, somente cuidava das armas, nunca havia lutado. Como, pois, poderia enfrentar um guerreiro extremamente experiente como Golias? Sejamos justos: do ponto-de-vista humano, Saul tinha razão. 

– Entretanto, este é o perigo do desânimo. Ele se constrói exatamente no fato de que os argumentos apresentados sempre são racionais. O desânimo é uma consequência de abandonarmos a fé em Deus pela razão humana.

Se olharmos única e exclusivamente para o que nos cerca, para os argumentos humanos, certamente nos desanimaremos. Mas, se, entretanto, olharmos para Jesus, o autor e consumador da nossa fé, olha esta que se dá mediante a meditação nas Escrituras, pois são elas que testificam do Senhor (Jo.5:39), certamente teremos o ânimo necessário para termos a vitória. 

– Contudo, diante das palavras desanimadoras de Saul, Davi responde com a experiência que já tinha com Deus no pastoreio das ovelhas de Jessé.

Não negou que fosse moço, nem tampouco que Golias fosse um guerreiro experiente, mas revelou ao rei que sua disposição não era uma aventura irresponsável, mas uma convicção surgida de fatos objetivos, de combates com feras ao longo de sua vida de pastor. 

– Este gesto de Davi é elucidativo, pois mostra que, embora o crente não possa confiar somente em experiências, devendo, antes de tudo, ter alicerce na Palavra de Deus, é indispensável que o crente tenha experiência com Deus.

Esta é uma discussão que sempre freqüenta o meio evangélico, notadamente entre os que dizem seguir a ―linha reformada‖ e os que são de outra tradição.

Com efeito, a importância da experiência pessoal na vida cristã foi enfatizada principalmente por John Wesley, fundador da Igreja Metodista e acabou sendo acolhida pelo segmento dito pentecostal. 

– Os adversários de Wesley e daqueles que dão lugar à experiência na vida espiritual, dizem que a única testemunha de Cristo são as Escrituras e, por isso, não se pode dar valor algum a quaisquer experiências subjetivas. No entanto, vemos aqui com Davi que não é bem esse o ensino bíblico.

Davi confiava em Deus e sua confiança não se baseava em quaisquer experiências, mas, sim, nas promessas e alianças que o Senhor havia feito com o povo de Israel, seja com Abraão, seja a lei de Moisés. 

– No entanto, o fato de ser um homem dedicado ao Senhor e que, inclusive, havia recebido o Espírito Santo, fez com que Davi tivesse experiências com o Senhor, pois é impossível que não se deem experiências entre o servo de Deus e o seu Senhor, máxime quando o Espírito Santo habita em nós, como sói ocorrer nesta dispensação e ocorria com Davi, pelo fato de ter sido ungido rei.

 Assim, as experiências tão somente confirmam o que é objetivamente dado pelas Escrituras, apenas reafirmam a veracidade de que a Palavra de Deus é a verdade. A falta de qualquer experiência

sobrenatural com Deus é que é um indicativo de que a pessoa, embora se diga filha de Deus, não tem qualquer relacionamento com o Senhor, precisando, antes, converter-se. 

– Davi tinha experiências com Deus e, nelas, havia podido combater contra feras mais fortes do que ele, no seu cuidado e zelo com as ovelhas de seu pai.

Assim como o Senhor lhe fizera vencedor nestes combates, confiava que o faria com relação ao gigante, já que o que o impulsionava era um intento ainda mais sublime do que o de cuidar das ovelhas de seu pai e cumprir o seu dever: o de repudiar uma afronta ao Deus vivo, ao Deus de Israel (I Sm.17:34-36). 

– Como é bom quando reconhecemos que os êxitos de nossa vida são devidos única e exclusivamente à vontade do Senhor.

 Quando assim agimos, não corremos o risco de nos vangloriar e, desta maneira, teremos sempre condição de, na absoluta dependência de Deus, não sermos atingidos pela presunção e pelo orgulho, sentimentos que são fatais e determinam a queda espiritual do ser humano.

 Não se trata de tudo espiritualizar, como alguns afirmam, mas de reconhecer que, mesmo o que é natural e racionalmente explicável, depende da vontade divina para acontecer. A vitória se dá por Jesus Cristo (I Co.15:57). 

– Davi fazia com que se retomasse o correto curso da discussão, a correta compreensão dos fatos. Não se tratava de uma luta entre ―servos de Saul‖ e Golias, mas, sim, de uma resposta do povo de Israel a uma afronta ao Deus vivo.

Deus que havia livrado Davi da mão de um urso e de um leão, animais irracionais, não haveria de livrá-lo das mãos de um incircunciso que havia se atrevido a afrontar o próprio Deus diante de Seu povo? 

– Diante desta argumentação, que não era racional nem lógica, como a do rei Saul, mas baseada na fé, uma argumentação centrada nas promessas e nas alianças de Deus para com o seu povo, o rei Saul não teve como manter o seu desestímulo.

O rei sabia que contra Deus o incircunciso não poderia prevalecer e que as promessas do Senhor estavam em pleno vigor. Assim, rendeu-se ao ímpeto de Davi e aceitou que ele fosse combater Golias (I Sm.17:37). 

– Mas, ainda surgiu um novo obstáculo para Davi. Mesmo tendo aceitado que Davi fosse guerrear contra o filisteu, Saul apresenta ao jovem Davi as suas vestimentas a fim de que Davi fosse guerrear como um guerreiro tradicional. Este é novo obstáculo: o da conformidade com o mundo. 

– Muitos conseguem vencer a oposição familiar, como também o desânimo, mas, no momento de ir para a peleja, aceitam assumir a conformidade com o mundo. Vão para a luta, mas usando as armas carnais, as armas humanas, o modo de proceder ditado pela humanidade.

Em virtude de não abandonarem a maneira de viver que, por tradição, receberam de seus pais (I Pe.1:18), acabam sendo inexitosos em suas ações. 

– As armas de Saul eram, sem dúvida, as mais vistosas de Israel, afinal de contas, Saul era o rei e se notabilizava como o principal guerreiro de seu exército, ―aquele que matava milhares‖(I Sm.18:7).

Ao entregá-las a Davi, seu pajem de armas, Saul, certamente, estava interessado em oferecer o melhor para o seu valente soldado, mas, infelizmente, não eram tais armas apropriadas para aquele jovem.

Ele agia pela fé, não pelo modo de viver humano. Ele agia movido pelo Espírito Santo e queria combater em nome do Senhor, não com base na tecnologia e no conhecimento humanos. 

– Quantos, hoje em dia, estão a se utilizar da armadura de Saul para terem êxito na batalha contra o mal? De nada adianta o conhecimento humano, a tecnologia, a erudição, a experiência, a habilidade para enfrentarmos o mal e o pecado.

 Temos de ter o poder de Deus em nossas vidas. Sem a fé, é impossível não só agradar a Deus, como também não se pode alcançar a vitória sobre o mal. Sem a fé, nem a palavra pregada faz qualquer efeito sobre o crente (Hb.4:2).

OBS: ―… Uma das tentações do deserto não foi apenas que Ele [o Senhor Jesus, observação nossa] teria os reinos do mundo, mas que ele deveria tê-los pelo uso do meio sugerido por Satanás. Ele deveria Se prostrar e adorar Satanás: Ele deveria usar a arma carnal, o que seria o mesmo que adorar Satanás.

Jesus não o fez. Desde aquele dia, a grande luta de Jesus com os poderes das trevas não é com espada nem com escudo, mas com aos seixos do ribeiro. A pregação simples do Evangelho, com a funda de pastor da Grande Cabeça da Igreja, atingiu-os bem no meio da testa.

 É isto que derruba Golias e há de derrubá-lo até o último dia. Vão é para a Igreja até mesmo pensar que obterá a vitória pela riqueza, pela posição ou pela autoridade civil. Governo algum a ajudará. Ela deve olhar somente para o poder de Deus.

Não por força, nem por violência, mas pelo Meu Espírito‘, diz o Senhor dos exércitos. Feliz será a Igreja quando aprender esta lição.

A palavra da cruz, que é ‗loucura para os que perecem‘, é, entretanto, para os que creem em Cristo, o poder de Deus e a sabedoria de Deus‘ (…).Ah! A armadura de Saul não se ajusta em nós. Aqueles que gostam dela podem usá-la, mas, depois de tudo, pregar Cristo e Este crucificado — contar a velha história, sim, a velha história do amor eterno e do sangue que o selou, o modo da redenção, a verdade da graça imutável de Deus — isto é usar aquelas pedras e aquela funda que certamente atingirá a testa do inimigo…‖ (SPURGEON, Charles Haddon. A primeira vitória de Davi. Disponível em: http://www.spurgeon.org/sermons/2913.htm Acesso em 03 set. 2009) (tradução nossa de texto em inglês).  

– Davi cingiu a espada sobre os seus vestidos e começou a andar, mas nunca o havia experimentado. Entendeu, pois, Davi que a armadura de Saul não lhe tinha qualquer valor. Sabemos que, como pajem de armas de Saul, Davi conhecia as suas vestimentas e delas tinha cuidado.

Como era sempre dedicado no que fazia, tinha pleno conhecimento de suas características e de como o rei se vestia nelas.

 Mas não basta termos conhecimento teórico, é preciso que tenhamos experiência. Davi nunca tinha experimentado as vestimentas de Saul e, por isso, não podia andar com aquilo.

Que ensino profundo temos com este episódio! Para andarmos com Deus, precisamos ter experiência com Ele. Para andarmos com Deus, temos que experimentá-lO.  OBS: Neste particular, a propósito, queremos aqui transcrever a sábia e mui oportuna resposta dada pela senadora Marina Silva (PV-AC), crente que é das Assembleias de Deus, a respeito de sua conversão, em uma entrevista recente para a revista Veja:

―…Fui católica praticante por 37 anos, um aspecto fundamental para a construção do meu senso de ética. Meu ingresso na Assembleia de Deus foi fruto de uma experiência de fé, que não se deu pela força ou pela violência, mas pelo toque do Espírito. Para quem não tem fé, não há como compreender.

Esse meu processo interior aconteceu em 1997, quando já fazia um ano e oito meses que eu não me levantava da cama, com diagnóstico de contaminação por metais pesados.

Hoje, estou bem. (BRASIL, Sandra. Marina imaculada. Entrevista com Marina Silva, Veja, edição 2128, ano 42, n. 35, 2 set. 2009, p.23). Aqui a nossa irmã senadora faz eco ao poeta sacro: ―Oh! Por que Jesus te ama? Eu não posso t‘explicar, mas a ti também te chama, pois deseja te salvar!‖ (refrão do hino 169 da Harpa Cristã, traduzido/adaptado por Paulo Leivas Macalão) 

– Davi não poderia se revestir com a armadura de Saul, não podia querer enfrentar Golias em nome do Senhor se utilizando de ferramentas humanas, numa estratégia que não havia sido dada pelo Espírito Santo. Que bom seria se nós sempre lembrássemos de que não basta perguntarmos a Deus o que fazer, mas que devemos, também indagar ao Senhor como fazê-lo.

Muitos têm se moldado ao mundo, em vez de seguir o inspirado conselho do apóstolo Paulo para não conformarmos ao mundo, mas nos transformarmos, renovando o nosso entendimento, ou seja, modificando a nossa mentalidade, desprendendo-se das convenções e conceitos despidos da orientação divina, pois só assim experimentaremos a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Rm.12:2).

Por isso, razão tem o comentarista bíblico inglês Matthew Henry, quando disse que ―…Aquele que pôs no seu coração que lutasse com o filisteu, também pôs em sua mente com que armas deveria fazê-lo…‖ (Comentário Completo de Matthew Henry de toda a Bíblia, I Sm.17:31

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  1. Disponível em: http://www.biblestudytools.com/Commentaries/MatthewHenryComplete/mhccom.cgi?book=1sa&chapter=017 Acesso em 03 set. 2009) (tradução nossa de texto em inglês). Davi tirou aquelas vestimentas de sobre si (I Sm.17:39 ―in fine‖) e, vencido o último obstáculo, foi ao encontro do gigante.

IV – DAVI ENFRENTA E VENCE GOLIAS 

– Davi, após ter deixado as vestimentas de Saul, saiu da presença do rei e foi ao encontro de Golias, seguindo, por pura obediência à autoridade real, a aceitação tanto das regras do jogo como da transformação da luta coletiva em individual, ainda que sabia estar ali representando o povo de Deus como resposta a uma afronta ao Deus vivo.  

– Ao partir, Davi não foi sem qualquer arma. Embora soubesse que estava indo em nome do Senhor e que era d‘Ele a vitória, não poderia demonstrar qualquer presunção nem tampouco descuido.

Quantos crentes, apesar de bem agirem ao recusarem confiar nas armas humanas, mal se conduzem ao se apresentarem diante do adversário de ―mãos abanando‖, completamente desguarnecidos.

Se é verdade que se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela (Sl.127:1b), não há momento algum na Bíblia em que o Senhor manda que não houvesse sentinelas nas portas e muros das cidades. 

– Davi muniu-se do cajado, um dos instrumentos que utilizava como pastor de ovelhas, talvez porque fosse com o cajado que tivesse lutado com o urso e com o leão, mantendo-se, pois, coerente com o que havia falado com o rei para demonstrar tanto sua confiança em Deus quanto sua experiência.

 Davi mostra-nos, pois, que o homem de Deus não deve apenas falar, mas agir conforme as suas palavras. Davi não era alguém que dizia ―faça o que mando, não faça o que faço‖. Muito pelo contrário, como verdadeiro tipo de Jesus, primeiro fazia, para depois ensinar (At.1:1). 

– Além do cajado, Davi também escolheu para si cinco seixos do ribeiro e os pôs no alforje de pastor que trazia, no surrão, i.e., na bolsa. Mais uma vez, vemos que Davi se mantinha coerente com o que havia dito ao rei.

Também notamos que Davi, ao viajar por ordem de seu pai, viajou, como se diz, ―com a roupa do corpo.

O fato de estar de posse dos instrumentos de trabalho do pastor é a comprovação de que Davi, assim que deixou as ovelhas com o guarda, já empreendeu viagem, não se distraindo com coisa alguma no caminho.

Não tinha vergonha de mostrar o que era e isto, aliás, deve ter sido o mote para que Eliabe procurasse desmoralizá-lo, pois, da forma como estava vestido, era nítido que se tratava de um pastor de ovelhas. 

– Outra grande lição que nos dá o jovem Davi. Devemos ir à luta contra o mal como somos, sem qualquer hipocrisia, sem quaisquer subterfúgios. Devemos assumir o que somos, até porque foi Deus quem nos fez desta maneira e qualquer artifício que se procure fazer será uma falsidade, será, mesmo, uma ingratidão para com o Senhor.

Como esta veracidade e sinceridade está distante dos enganos e máscaras que tanto caracterizam os homens destes dias trabalhosos em que vivemos que, tendo a aparência de piedade, negam-na com suas ações (II Tm.3:5).

OBS: É com tristeza que vemos, na atualidade, que a apresentação, a aparência tem sido um critério para escolha de obreiros e de designação de pessoas para este ou aquele trabalho na casa e na obra do Senhor.

Que tristeza! É óbvio que um homem de Deus não pode ser um relaxado, um desleixado, alguém que não observe os princípios básicos da higiene e da compostura, até porque não podemos ser instrumento de escândalo nem mesmo aos gentios (I Co.10:32), mas daí a elevar este requisito a critério tanto ou mais valioso que a direção do Espírito Santo é mais uma amostra dos dias difíceis que estamos a viver. 

– Muito se discute sobre o significado dos ―cinco seixos do ribeiro‖. Há quem veja nesta atitude de Davi um abalo na sua fé, pois, se confiasse mesmo em Deus, teria pegado uma só pedra.

Não concordamos, porém, com este raciocínio. Davi era extremamente dedicado e prudente. Sabia que o Senhor lhe daria a vitória, mas não sabia como. Como bom pastor de ovelhas, a única arma de ataque que levava era a funda, arma que bem sabia utilizar e cujo uso na guerra não era novidade entre os israelitas (Jz.20:16).

Deste modo, deveria carregar-se com o máximo que pudesse, porquanto não era presunçoso e sabia que deveria ir com o que tivesse de melhor para enfrentar o gigante.

Em toda esta passagem bíblica, vemos Davi com cuidado e zelo, não seria agora que compareceria diante de Golias com desleixo e descuido. OBS: Há, ainda, como David L. Baker (Por que Davi precisou de cinco pedras quando ele saiu para lutar com Golias? Disponível em: http://www.scripturessay.com/article.php?cat=&id=525 Acesso em 03 set. 2009) (texto original em inglês), quem entenda que Davi tinha a certeza de que uma só pedra era necessária para vencer o gigante, mas, como se seguiria uma batalha após a derrota de Golias, entre Israel e os filisteus, como o próprio Davi dá mostra em I Sm.14:46 e que as demais pedras seriam para defesa neste embate que se seguiria à morte do gigante. Baker, muito honestamente, faz questão de dizer que seu pensamento não passa, porém, de mera conjectura, ante o silêncio das Escrituras. 

– Muito também se fala sobre o sentido espiritual destes ―cinco seixos‖. Não resta dúvida de que o número ―cinco‖ representa ―aliança‖, ―compromisso‖ e, neste sentido, como Davi foi à luta em nome da aliança de Deus com o Seu povo, não deixa de ser elucidativo que tivesse escolhido cinco pedras, mas não devemos inferir que Davi o fez conscientemente.

Há, sim, um ensino para nós, que lemos as Escrituras, mas isto certamente passou despercebido do jovem, que teve o cuidado de escolher as pedras no ribeiro, pedras que pudessem ser bem utilizadas na funda, daí porque serem pedras lisas (seixo significa pedra alisada pela água), que poderiam facilmente ser postos na funda, como também eram de mais fácil direcionamento ao alvo.

OBS: A propósito, o padre Antonio Vieira elaborou cinco conhecidos sermões sobre as ―cinco pedras da funda de Davi‖ considerando-os, seguindo interpretação do cardeal Hugo de Saint Cher (1200-1263), como sendo ―o conhecimento de sim mesmo‖, ―a dor do bem perdido‖, ―o pejo do mal cometido‖, ―o temor do castigo futuro‖ e a ―esperança do gosto eterno‖, vendo, assim, nestas ―cinco pedras‖, o processo da salvação do homem, a derrota do pecado, simbolizado pelo gigante. (os sermões de Vieira podem ser lidos em http://books.google.com.br/books?id=T_YRAAAAYAAJ&pg=RA2PA134&dq=serm%C3%B5es+pe+antonio+vieira,+%22cinco+pedras%22#v=onepage&q=&f=false Acesso em 11 set. 2009). 

– Neste sentido, aliás, também podemos ver nestas ―cinco pedras‖ uma figura dos servos do Senhor, que são ―pedras vivas‖ (I Pe.2:5), que, devidamente amoldados pela Palavra de Deus (que significa a água) podem enfrentar e fazer o inimigo cair (Lc.10:19), desde que escolhidos e lançados pelo ―Filho de Davi‖, na direção e orientação do Espírito Santo. 

– Há, ainda, uma outra interpretação a respeito dos ―cinco seixos do ribeiro‖. Entendem alguns que esta escolha de cinco pedras também foi profética, visto que, ao longo da vida de Davi, seus servos haveriam de matar todos os filhos de Golias.

Com efeito, como nos relata tanto II Sm.21:15-22 e I Cr.20:4-8, em quatro guerras contra os filisteus, os servos de Davi mataram os quatro filhos de Golias, a saber:  Isbi-Benobe, morto pelo primo de Davi, Abisai (I Sm.21:16,17); Safe ou Sipai, morto por Sibecai, um dos valentes de Davi (I Sm.21:18 e I Cr.20:4); Golias ou Lami, morto por ElHanã, um soldado de Davi, também de Belém (II Sm.21:19 e I Cr.20:5) e, por fim, um cujo nome não nos é fornecido, mas que tinha seis dedos nos pés e nas mãos, morto por Jônatas, sobrinho de Davi (II Sm.21:20,21 e I Cr.20:6,7).  

– Davi, após ter cuidadosamente se armado, com as armas de que dispunha e com as quais tinha habilidade, mais uma vez manifestando toda a sua prudência e senso de responsabilidade, ―foi-se chegando ao filisteu‖ (I Sm.17:40), sem afobamento, sem precipitação, mas plenamente consciente do que fazia.

Que bom seria se todos nós, quando estivéssemos diante do adversário, tivéssemos o comportamento sóbrio do jovem Davi. Aliás, diz Paulo a Tito, neste mundo é assim que devemos viver (Tt. 2:12). 

– Golias, ao notar que se aproximava um israelita, também foi se chegando, prova de que, embora tivesse feito suas falácias, que, por sinal, eram parte de sua estratégia de guerra, não estava simplesmente atemorizando o inimigo, mas era um guerreiro pronto para entrar em ação.

Não nos iludamos: o inimigo não se cansa, nem vacila, está dia e noite acusando os servos do Senhor e procurando derrotá-los (Ap.12:10). Quem dorme é o crente negligente, mas jamais as hostes espirituais da maldade! Lembre-se disto!  

– Entretanto, quando o gigante se aproximou e viu quem vinha para enfrentá-lo, desprezou Davi, caindo, assim, na própria armadilha que havia montado para os israelitas, ou seja, o de construir um imaginário com base nas aparências, o que havia deixado o exército de Israel com pânico e pavor, com evidentes sequelas em seu desempenho militar.

Agora, ao ver aquele jovem pastor, com ―pedaços de pau‖, vindo ao seu encontro, Golias age da mesma maneira e, no seu desprezo, constrói um imaginário baseado na autoconfiança e na autossuficiência que lhe seriam fatais. 

– Golias viu Davi como um mancebo, ruivo e de gentil aspecto (I Sm.17:42). Não era uma visão errada.

Era precisamente o que Samuel havia visto quando do momento de sua chegada à casa de Jessé. Todavia, o que Golias, homem carnal, não poderia ver era o que o moço de Saul havia visto, ou seja, que, além de mancebo, ruivo e de gentil aspecto, Davi também era valente, animoso, homem de guerra, sisudo em palavras e, o mais importante de tudo, que Deus era com ele.

Quando os homens do mundo nos olharem, não os condenemos, pois eles não podem compreender quem somos, não tiveram seus olhos ainda iluminados pela luz do Evangelho de Cristo (II Co.4:4). Os homens espirituais tudo discernem, mas por ninguém do mundo são discernidos (I Co.2:15). 

– Golias, então, lança mão de sua retórica para intimidar aquele que, a seus olhos, chance alguma tinha na batalha. Vangloria-se, dizendo que Davi o considerava como um cão para vir a ele com paus.

 Certamente, havia prestado atenção no cajado que Davi trazia em sua mão bem como a funda, que já deveria estar armada, ainda que sem pedras. Em seguida, amaldiçoou a Davi pelos seus deuses e disse que daria a carne de Davi para as aves do céu e as bestas do campo (I Sm.17:43,44). 

– Quando entramos em combate com o inimigo, depois de termos vencido os obstáculos da oposição familiar, do desânimo e da conformidade com o mundo, o inimigo vem com a sua força, com a maldição advinda dos poderes malignos. Não devemos temê-lo, porém, porque ―…contra Jacó não vale encantamento, nem adivinhação contra Israel‖ (Nm.23:23a). Lamentavelmente, não são poucos que cristãos se dizem ser que têm medo de macumbas, feitiçarias e outras coisas provenientes das trevas. Não devemos temê-lo, mas, quando aparecerem tais manifestações, façamos como Davi: prossigamos nosso embate em nome do Senhor! 

– Diante das maldições e imprecações de Golias, Davi não ficou calado. Disse ao gigante, em alto e bom som, para ser ouvido por todos, que o filisteu vinha com espada, lança e escudo, mas ele vinha em nome do Senhor dos exércitos de Israel, a quem Golias estava a afrontar (há estudiosos judeus que entendem que o fato de Golias vir de manhã e de tarde desafiar os israelitas não era algo despropositado: eram precisamente os horários dos sacrifícios a Deus, ou seja, uma forma de afrontar diretamente a Deus).

Davi mostrava, com isso, que não era nos paus que trazia que ele depositava a sua confiança, mas no próprio Deus. Que lição bonita de fé!

– Em seguida, movido pelo Espírito Santo, Davi profetiza, dizendo que, naquele dia, o Senhor entregaria Golias em sua mão e ele o feriria e lhe tiraria a cabeça, como também os corpos do arraial dos filisteus é que seriam dados às aves dos céus e às bestas da terra, a fim de que a terra soubesse que havia Deus em Israel e o próprio Israel soubesse que a salvação vem do Senhor, que Ele mesmo é a guerra (I Sm.17:46,47). Temos mais uma evidência da presença do Espírito Santo na vida de Davi.

Davi era profeta e, como tal, dissera aquelas palavras, que, aliás, foram literalmente cumpridas. Nesta profecia, Davi mostra que Deus não Se deixa escarnecer e que aquilo que os maus desejam contra o povo de Deus é o que lhes sobrevêm. 

– Esta profecia de Davi punha as coisas no seu devido lugar. Todas as falácias de Golias seriam destruídas, assim como o próprio gigante. Deus mostraria que é Ele quem tem o controle de tudo, inclusive quem havia permitido aquela guerra, precisamente para que, nela, mostrasse o Seu ungido ao povo. Deus mostrava que Israel era Seu servo e não, servo de Saul.

Deus é quem determinava as regras da batalha, não o homem, tanto que não se venceria pelas armas. Deus não se circunscreveria ao local de batalha posto por Golias, pois os corpos dos filisteus seriam dados às aves e às bestas no seu próprio arraial, não no vale. Deus, por fim, mostrava que mantinha as Suas promessas para com Israel e que nada havia de que se duvidar. 

– Após a troca de palavras, iniciou-se o combate propriamente dito. O filisteu foi ao encontro de Davi, mas o jovem se apressou, correu ao combate, encontrou-se com o filisteu. Não podemos nos acovardar diante do ataque do inimigo, mas ir ao seu encontro, apressadamente, sem distração, mas também não de modo precipitado.

Davi correu ao encontro do gigante, mas sua pressa não foi tanta que o impediu de, habilmente, pôr a mão no alforje, tomar dali uma pedra e atirá-la com a funda.

A habilidade, a destreza eram de Davi, mas a pontaria foi de Deus. A pedra acertou a testa do gigante, num local que estava desprotegido pelo capacete, pedra esta que cravou na sua testa. Como resultado disto, o gigante caiu com o rosto em terra (I Sm.17:49). 

– Aqui vemos claramente a parte humana e a parte divina no embate com o adversário. Davi fez a sua parte, que foi a preparação, a pressa para não ser surpreendido pelo gigante, a tomada da pedra no alforje e o uso da funda.

Tais coisas Davi poderia fazer e eram necessárias não para Deus fazer o milagre, porque o Senhor não precisa de pessoa alguma para tanto, mas, sim, para que se pudesse demonstrar que a fé em Deus é retribuída com a vitória sobre o mal. 

– Entretanto, por mais habilidade e dedicação que Davi tivesse mostrado, é inegável que a pontaria ali foi de Deus, como também o fato de o gigante ter caído com o rosto em terra e não de costas, como seria o lógico a ocorrer nesta situação, tudo para demonstrar que tudo se fazia pelo poder de Deus, que o próprio Senhor era a guerra, que a vitória só a Ele poderia ser atribuída, daí porque o texto sagrado dizer que Davi, com uma pedra e uma funda, vencera o gigante, sem ter sequer uma espada na mão (I Sm.17:50). 

– Em seguida, Davi, uma vez mais, mostra que o homem deve estar pronto, mesmo quando Deus age. Vendo que o gigante estava tombado no chão, o jovem correu, pôs em pé sobre o filisteu, tomou a sua espada, tirando-a da bainha e o matou, cortando com ela a cabeça.

Fê-lo de modo destemido, sem nem dar confiança para o escudeiro de Golias e movido pelo Espírito Santo, até porque percebera que havia profetizado, pouco antes, que haveria de cortar a cabeça do filisteu. Não devemos dar confiança a quem quer que seja quando sabemos que estamos a fazer aquilo que é da vontade de Deus. 

– Percebendo os filisteus que Golias havia morrido, fugiram, a fim de que se cumprisse a Palavra do Senhor de que os corpos dos filisteus seriam dados às aves dos céus e às bestas da terra no arraial dos filisteus, não no vale, lugar que havia sido ilegitimamente apontado como o local da batalha pelo gigante. Como se não bastasse, a luta voltou a ser coletiva, voltou a ser dos israelitas contra os filisteus, porque também a modificação efetuada pelo inimigo não poderia prevalecer.  

– A fé demonstrada por Davi contagiou o povo de Deus. Os israelitas abandonaram o pânico e o pavor, trocaram-nos pela alegria e pela coragem.

Correram atrás dos filisteus e o perseguiram até o termo dos próprios filisteus, chegando às portas de Ecrom, tendo caído filisteus pelo caminho de Saaraim, entre Gate e Ecrom, tendo ademais feito grande despojo nos arraiais dos filisteus.

Uma vitória completa que não só fez cessar a resistência dos filisteus a Israel, como abriu as portas de parte das terras filistinas para Israel. 

– Diante de tamanha vitória, o rei Saul pergunta a Abner, o comandante do exército, de quem Davi era filho e, como Abner não o soube dizer, Saul fez a pergunta diretamente para o jovem (I Sm.17:55-58).

Muitos discutem esta passagem, vendo aí uma ―contradição‖ bíblica, já que Davi era pajem de armas de Saul.

No entanto, não devemos nos levar por esta linha de pensamento. Davi era apenas um dos muitos mancebos que serviam ao rei Saul, era uma pessoa irrelevante, insignificante na corte e, por isso, Saul não lhe dava muito valor, nem se preocupara em saber quem era e a que família pertencia, ainda mais que Davi era de Judá, tribo distinta da de Saul (Benjamim). Tem-se aqui apenas um reforço de que Davi era, até então, um ilustre desconhecido da classe governante de Israel. 

– Na vitória, Davi nos dá outra lição. Por primeiro, tomou a cabeça do filisteu e a trouxe a Jerusalém, enquanto que as armas do filisteu pôs na sua própria tenda.

Demonstrou, desta maneira, respeito à lei e não ser um homem sanguinário e macabro. Foi ao encontro do rei, demonstrando sua submissão, que se explicita na forma como se dirige ao rei ao se identificar como filho de um servo de Saul.

O fato de ter vencido o gigante não o tornou deslumbrado, como muitos que, na atualidade, são usados por Deus. Davi mostra-nos que todo jovem deve ser moderado, como, aliás, aconselha Paulo a Tito que assim sejam exortados os mancebos cristãos (Tt.2:6).  

– É importante observar que Davi não ficou com a cabeça do filisteu, pois a entregou para o rei, como também não ficou com as armas do filisteu, pois a veremos, no desenrolar da história de Davi, em Nobe, onde estava o tabernáculo (I Sm.21:9). Davi não era um homem que buscasse troféus ou vanglória, numa humildade exemplar que deve ser perseguida por todos quantos têm chamada divina em suas vidas. 

– Aqueles que são chamados por Deus não precisam se vangloriar nem se exibir diante dos que governam o povo de Deus, mesmo quando se trate de pessoas rejeitadas pelo Senhor, como era o caso de Saul. Davi sabia que, assim como Deus lhe havia dado a vitória sobre Golias, no tempo certo, conceder-lhe-ia o trono.

Não seria desrespeitando ou dando mostras de superioridade a Saul, após esta tão grande vitória, que ele cresceria ou receberia a bênção de Deus. Hoje, infelizmente, há muitos que se dizem ―jovens e que, com esta qualidade, exibem uma altivez e um desrespeito para com os ―velhos, querendo, de toda maneira, derrubá-los para assumir o governo.

Não é assim que age um homem segundo o coração de Deus. Não foi assim que agiu Davi.

OBS: ―… Davi também deixa-nos um exemplo do fato de que nossa oportunidade virá, se nossa eficiência tiver sido dada, sem que, para tanto, precisemos procurar particularmente por ela.

Davi manteve-se em posição. Ele foi chamado providencialmente para ocupar o lugar que lhe era adequado como um grande homem em Israel.

 Quando ele menos imaginava, quando trazia pão, grão e queijo, ele se distinguiu entre todos os outros homens da Palestina. Foi assim. Amados, não se apressem em olhar para fora de seu lugar.

Estejam prontos para o seu lugar, seu lugar virá até vocês. Falo a muitos queridos irmãos jovens que estão estudando para o ministério. Estejam antes preparados para qualquer trabalho a ficar olhando para algum trabalho em particular. Deus tem o

lugar d‘Ele para você. Ele cairá de repente em seus pés: depende d‘Ele. Estejam prontos.

A parte de vocês é estarem prontos. Tenham suas ferramentas bem afiadas e saibam como manuseá-las.

O lugar virá a vocês, o melhor lugar para vocês, se vocês não ficarem olhando para o que seus sentidos encontram, isto provará que vocês serão vasos adequados para uso do Mestre.

Davi encontrou sua oportunidade. Primeiro ele recebeu o Espírito, que é o principal, e então aproveitou a ocasião para usar suas credenciais, quando elas foram solicitadas.…‖ ( SPURGEON, Charles Haddon. end. cit.) (tradução nossa de texto em inglês). 

– Davi fizera-se conhecido de sua nação. O Senhor mostrara que ainda tinha compromisso com Israel e, ainda que de modo velado ainda, estava a indicar ao povo que sua aliança com Israel e, por conseguinte, com a humanidade toda, tinha continuidade na figura daquele jovem que enfrentara e vencera o gigante.

Davi virava uma página de sua história, pois não mais voltou para cuidar das ovelhas de seu pai, tendo sido ordenado por Saul que passasse a servi-lo na corte, como soldado de Israel (I Sm.18:2). Começava uma nova fase na vida de Davi, na sua preparação divina para o trono de Israel.

Ev. Dr. Caramuru Afonso

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